A apologia da emigração como força civilizadora em Eça de Queirós
O autor de "Os Maias", diplomata a quem Mário Duarte chamou "Cônsul de Portugal ao serviço da Humanidade", escreveu um relatório sobre a emigração, com base no que viu nos postos consulares onde esteve, de que cito um excerto, tendo sido escrito o relatório em 1874:
“Perante a emigração qual deverá ser a
attitude dos Governos o – ? – Evidentemente uma simples interferencia policial. O
Governo não deve provocal-a nem prohibil-a. (…) Accerela-a é perigoso:
reprimil-a é inutil. (…) Todos os governos que teem provocado a emigração, teem
criado voluntariamente miseria; todos os governos que a teem prohibido teem organizado
legalmente a desobediencia. (…) Se os Governos não devem provocar a emigração,
não devem prohibil-a. Todo o direito natural se revolta contra tal pretensão. (…)
Nenhum Governo pode encadear legalmente ao solo aquelles dos seus habitantes
que querem procurar fóra o que a sua pátria não lhes dá – a facilidade da vida.
O Estado não é uma prisão. (…) De resto prohibir a emigração livre é inutil, é
criar uma outra bem mais deploravel – a emigração clandestina: - é faser entrar
o homem na nova vida de trabalho pela porta da desobediência. Prohibir o
emigrante livre, é criar o foragido. Ora o emigrante está sobre a protecção dos
regulamentos da polícia do Estado: – o foragido está abandonado a exploração de
contractadores, sem defesa, sem garantias: não tem quem fiscalize o seu contracto,
o seu transporte. Não é um homem livre que se expatriou, e pode com a lei na mão
pedir a justa remuneração do seu trabalho, – é um evadido da miséria nacional
que tem de viver na dependência dos que o asylão.”
Etiquetas: Eça de Queirós, Eça de Queiroz, Emigração, relatório
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