sábado, junho 11, 2005

Indignação*


Tinha prometido a mim mesmo, por uma questão de “higiene mental”, não sujar a minha boca, nem as minhas mãos, nem perder o meu tempo a falar e a dar ainda mais publicidade a um programa que me repugna.
Os factos, no entanto, obrigaram-me a rever a minha posição, sob pena do meu silêncio desta vez se voltar contra mim, por isso não me posso calar!
Como é possível que a Câmara Municipal de Portalegre tenha oferecido transporte para Lisboa e mesmo alguns jantares, a quem quisesse apoiar uma sua conterrânea, Elsa, que participa num programa televisivo da TVI, o Big Brother 2.
Que interesse “público” estará a Câmara Municipal de Portalegre a servir quando apoia as “Festas da Elsa”?
É, para mim, uma forma pouco socialista – tratando-se de um executivo camarário socialista – de encarar o investimento público.
Como é possível que um qualquer órgão do poder local, regional ou nacional, patrocine ou fomente semelhante programa?
Será que o faz para agradar a alguns eleitores?
Será que o faz, nada inocentemente, pensando entreter alguns eleitores que assim não se preocupam com os problemas locais?
Infelizmente, esta é a mesma Câmara Municipal que se queixa de não ter dinheiro para financiar visitas de estudo, que não dota a sua cidade de um cinema com um mínimo de condições – a Oposição em Portalegre também não está isenta de culpas, nem a própria população portalegrense – e permite que, a certas horas, não haja transporte público entre a cidade e a Estação da C.P., situada a 12 km!
Como é possível que, em determinados serviços públicos, se permita, mais grave do que isso, se dê carta branca a quem queira telefonar para o dito programa, para nomear outros concorrentes para saírem dele, para que a dita Elsa continue nele?
Confesso que a minha concepção de serviço público não se revê nesta situação.
É esta imagem que algum poder dá, patrocinando tudo o que afaste os eleitores da vida pública, do debate dos problemas locais, regionais, nacionais e internacionais, para assim poder fazer as asneiras que quiser, sem ter de prestar contas a ninguém, é este o mesmo poder que quer deixar passar a imagem de que os políticos são todos iguais, isto é, maus, corruptos, para afastar os mais honestos da política, fazendo aumentar a abstenção, a qual não preocupa um certo poder, este tipo de poder, o qual cresce paralelamente a ela.
Uma cultura viva, activa, forte, fortalece os cidadãos e isso preocupa um certo tipo de poder que nos quer passivos, sem poder crítico, em suma, cidadãos manipuláveis.
Os cidadãos que participam naquele género de programas, quais novos heróis que, este tipo de poder parece interessado em ajudar, não o podem criticar… por incapacidade manifesta.
Infelizmente, há quem não veja ou não queira ver isto, esta estratégia passa também por fazer esquecer o 25 de Abril de 1974, porque a sua comemoração faz os cidadãos recordar que há outra forma de fazer política que não esta e essa mensagem não convém a esse poder que passe.

Luís Norberto Lourenço

*Artigo de opinião publicado em:
· “O Distrito de Portalegre”, 11/5/2001
· “Fonte Nova”, 9/5/2001
· “Imenso Sul”, 11/5/2001
· “Diário do Alentejo”, 8/6/2001
O artigo teria uma resposta (nos mesmos jornais) de alguém que assinou como “As Amigas da Elsa”.

Divulgue o seu blog! Blogarama - The Blog Directory Blogarama - The Blog Directory TOP 100 WEBLOGS