segunda-feira, junho 13, 2005

A Aliança PS/PCP: o mais velho mito da direita pós-25 de Abril Ou A Direita e os seus mitos*


Faz parte da estratégia política da direita, entenda-se do PPD/PSD e do CDS-PP, de tempos a tempos “assustar” os eleitores do centro, entenda-se, aqueles que “flutuam” entre o PS e o PSD, com o “papão” comunista, dizendo: «É desta. É desta, agora que o PS e o PCP se vão entender».
Só falo sobre esta questão, por mais surrealista que pareça, entenda-se, numa coligação ou aliança eleitoral entre PS e PCP (CDU), por estar farto de a ver levantada por uma direita que a usa como estratégia destrutiva, mas que seriamente não acredita nela (nessa hipotética aliança), porque sabe que o PS e PCP, nunca, e sublinho nunca, se aliarão, no plano nacional (eleições legislativas), porque de facto é isto que está em causa. Aliança que nunca se concretizará, porque este PS, com ou sem António Guterres, nunca a faria nem fará.Infelizmente, apesar de toda a simbologia, apesar de hinos (o PS já secundarizou “A Internacional”), das bandeiras (a do PS viu o vermelho ser “e…ragado” pelo cor-de-rosa e pelo branco), dos estatutos (quanto já mudaram os do PS!), das origens históricas (as quais alguns jovens socialistas nem fazem ideia) das lutas antifascistas travadas (os que as fizeram são agora pejorativamente chamados históricos no PS, enquanto no PCP os olham com respeito) em conjunto (por vezes, outras nem por isso), de ideologias com base comum, de matriz marxista do PS e do PCP, de teóricos em muitos casos iguais, não sendo Karl Marx o único caso.
Sim, apesar de tudo isto, parece que o PS, ou pelo menos alguns dos seus militantes, diria mais, apoiantes, nada quer ter a ver com a esquerda, nada quer ter a ver com o PCP.
Alguns odeiam-no tanto (não é exagero) como o PSD, o PP, ou fascistas (salazaristas) que não se identificam nestes partidos. O PS, quando no Governo tomou uma posição legislando “à esquerda”, ou vota na Assembleia da República com o PCP, logo vem a direita falar na viragem à esquerda do PS, na perigosa aliança de esquerda, rosa-vermelha, socialista-comunista. As leis aprovadas com voto conjunto de socialistas e comunistas, nomeadamente durante os últimos dois governos PS, são claramente minoritários, são a excepção que confirma a regra de alianças, entendimentos privilegiados entre o PS e PSD ou PP.
Mas, ou talvez por isso, das poucas leis aprovadas com os votos do PS mais PCP e PEV, duas tiveram como destino os dois únicos referendos até à data feitos em Portugal, por pressão da direita, que quer agora levar uma 3.ª lei a referendo.
O PS, com posição maioritária e com apoio parlamentar mais do que suficiente para assegurar a aprovação das leis, só cedeu por vontade manifesta de António Guterres, que por falta de convicção nas leis aprovadas (despenalização do aborto e regionalização e agora a despenalização do consumo de droga), ou porque estas o foram com o PCP, cedeu.
Complexos de esquerda?Não!!!Logo aproveitou o PS (a cúpula, entenda-se o Secretariado Nacional) o pretexto/boleia da direita para deixar cair as leis, quase não fazendo campanha, ou não se mostrando muito convicto durante a mesma, para que, as mesmas talvez chumbassem.
E, vá-se lá saber por que carga de água, alguns militantes e apoiantes ditos socialistas são sensíveis a esta argumentação da direita!
Como homem de esquerda e socialista, compreendo e defendo que socialistas e comunistas, e porque não, ecologistas e bloquistas, se entendam, que privilegiem antes de mais o diálogo entre si.Isso será o “ideologicamente coerente”, o “politicamente natural”, contra-natura, apesar dos exemplos pós-25 de Abril, é que o PS tenha governado com o PSD (bloco central e com o CDS-PP) e nunca tenha governado com o PCP.
Razões pelas quais a direita não tem que se queixar ou levantar falsas questões. Apesar da maioria da população portuguesa se dizer de esquerda (PS, PCP e outros) nas várias eleições, nomeadamente nas legislativas, superar sempre os que se dizem de direita, excepto durante as duas maiorias absolutas do PSD com Cavaco Silva como Presidente do PSD, a verdade é que o PS, tem ou pelo menos parece ter complexos de esquerda.
Talvez porque não é, nem nunca foi um partido de esquerda.Por isso, e isso basta, nunca se aliará ao PCP.
Só a direita finge realmente acreditar nisso para captar votos dos eleitores centristas que ora votam no PS ora no PSD.
É isto o que penso, cada um que reflicta e pense no que quiser, a história política portuguesa confirma-o, e é nesta que baseio a minha opinião.
Luís Norberto Lourenço

*Versão expurgada de gralhas dum artigo publicado na revista “Raia”, em 2000.

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